quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

SUPERDOTAÇÃO

"As pessoas que marcaram a história por suas contribuições ao conhecimento e à cultura não são lembradas pelas notas que obtiveram na escola ou pela quantidade de informações que conseguiam memorizar, mas sim pela qualidade de suas produções criativas, expressas em concertos, ensaios, filmes, descobertas científicas, etc. "


[Renzulli & Reis, 1985]
 

Um pouco sobre superdotação...

A habilidade superior, a superdotação, a precocidade, o prodígio e a genialidade são gradações de um mesmo fenômeno, que vem sendo estudado há décadas em diversos países.

Chamamos de precoce a criança que apresenta alguma habilidade específica prematuramente desenvolvida em qualquer área do conhecimento, seja na música, na matemática, na linguagem ou na leitura.

Utilizamos o termo “criança prodígio” para sugerir algo extremo, raro e único, fora do curso normal da natureza. Um exemplo seria Wolfgang Amadeus Mozart, que começou a tocar piano aos três anos de idade. Aos quatro anos, sem orientação formal, já aprendia peças com rapidez, e aos sete já compunha regularmente e se apresentava nos principais salões da Europa.

Mozart, assim como Einstein, Gandhi, Freud e Portinari, entre outros mestres, são ainda exemplos de gênios, termo este reservado para aqueles que deram contribuições extraordinárias à humanidade. São aqueles raros indivíduos que, até entre os extraordinários, se destacam e deixam sua marca na história.

As habilidades apresentadas pelas pessoas aqui citadas, tenham sido elas precoces, prodígios ou gênios podem ser enquadradas em um termo mais amplo, que é a superdotação ou altas habilidades.

O superdotado/talentoso/portador de altas habilidades é aquele indivíduo que, quando comparado à população geral, apresenta uma habilidade significativamente superior em alguma área do conhecimento, podendo se destacar em uma ou várias áreas:

-Acadêmica: tira boas notas em algumas matérias na escola – não necessariamente em todas – tem facilidade com as abstrações, compreensão rápida das coisas, demonstra facilidade em memorizar etc;

-Criativa: é curioso, imaginativo, gosta de brincar com idéias, tem respostas bem humoradas e diferentes do usual;

-Liderança: é cooperativo, gosta de liderar os que estão a seu redor, é sociável e prefere não estar só;

-Artística: habilidade em expressar sentimentos, pensamentos e humores através da arte, dança, teatro ou música

-Psicomotora: Habilidade em esportes e atividades que requeiram o uso do corpo ou parte dele; boa coordenação psicomotora;

-Motivação: torna-se totalmente envolvido pela atividade do seu interesse, resiste à interrupção, facilmente se chateia com tarefas de rotina, se esforça para atingir a perfeição, e necessita pequena motivação externa para completar um trabalho percebido como estimulante.

Joseph Renzulli, renomado pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa sobre o Superdotado e Talentoso da Universidade de Connecticut, nos Estados Unidos, em seu Modelo dos Três anéis, considera que os comportamentos de superdotação resultam de três conjuntos de traços:

a) habilidade acima da média em alguma área do conhecimento (não necessariamente muito superior à média),

b) envolvimento com a tarefa (implica em motivação, vontade de realizar uma tarefa, perseverança e concentração);

c) criatividade (pensar em algo diferente, ver novos significados e implicações, retirar idéias de um contexto e usá-las em outro).

Modelo de Três Anéis:




Nem sempre a criança apresenta este conjunto de traços desenvolvidos igualmente, mas, se lhe forem dadas oportunidades, poderá vir a desenvolver amplamente todo o seu potencial.

Renzulli discute ainda a importância de se entender a superdotação como uma condição ou um comportamento que pode ser desenvolvido em algumas pessoas (naquelas que apresentam alguma habilidade superior à média da população), em certas ocasiões (e não continuamente, uma vez que é possível se demonstrar comportamentos de superdotação na infância mas não na idade adulta, ou apenas em alguma série escolar ou em um momento da vida) e sob certas circunstâncias (e não em todas as circunstâncias da vida de uma pessoa) [Renzulli & Reis, 1997].

Esta diferenciação é importante, pois este autor, ao considerar a superdotação como um comportamento a ser desenvolvido, retira a discussão da questão, muitas vezes estéril, de se rotular uma criança como superdotada ou não, para enfocá-la na necessidade de se oferecer oportunidades educacionais fundamentais e variadas para que um número maior de crianças possa desenvolver e apresentar comportamentos de superdotação.

Deste ponto de vista, segue-se que tais comportamentos podem e devem ser desenvolvidos naquelas pessoas que não são, necessariamente, as que tiram as melhores notas ou apresentam maiores resultados em testes de QI.